sexta-feira, 29 de julho de 2011

Cara Franchesca

Cara Franchesca, sinto a sua ausência, nesses últimos dias sinto seu sorriso malévolo a se espalhar pela casa, eu sei que isto é só saudade, e a melancolia já não me cai bem. Sinto imensamente a falta de um rosto familiar, que simplesmente me olhe, sem analisar, nem julgar, que olhe e apenas saiba, quem sabe até as coisas que nem eu mesma sei. Me sinto perdida e sem respostas, e o clima não flui. É inverno. Desde de o último inverno quase tudo mudou, mais fácil é falar do que não mudou, ainda somos as mães do gato? Ainda há um gato, o mesmo Detlef a circular na mesma vizinhança da casa verde da escadaria. Lembra de como gostavámos desta descrição? Isto ainda não mudou, e eu como diz Lispector "mudo sempre para continar a mesma", eu sei não fácil para entender. Seres perdidos em devaneios, e eu que sempre quis ser superficie, me afundo cada dia mais em profundezas. Me perco cada vez mais, e já não sei onde está a lógica. Posso garantir que tentei estar com os peregrinos e seguir em busca dos mesmos caminhos e dos mesmos sentidos, e da mesma mesmice. Minha Cara, eu tentei. E tentar nunca é suficiente, pois como costumavámos dizer "quem tenta, tenta, tenta, um dia desiste". Mas o tempo não para. E não tem como voltar aos dias que éramos duas bruxas a voar pelo mundo da imaginação, desafiando moinhos de ventos, brincando de sombra pelas madrugadas, brincando na chuva e cantando Raul, lembra? Tempos bons. Mas a alternativa é seguir, e como seguir quando a mente retrocede, o tempo não para. Já quebrei os relógios e queimei os calendários, e ainda assim o tempo vem. Vem, para me lembrar que não há mais nada além da saudade que povoa minha mente, mente fraca que gostaria de poder acreditar que você nadaria de volta aos dias de Franchesca e Valentini.
Mas como disse Renato "se fosse só sentir saudade, mas tem sempre algo mais..."

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